Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço | 2024

Detalhes / OBRA DE ARTE


Título: Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço

Criador: Alexandre Mury

Data de criação: 2024

Tipo: Happening

Meio: multimídias


Período da Arte: Contemporâneo

Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática

Assunto: tecido dourado, trajes especiais, escultura viva, jardim, espaço público, monumento

Obras Relacionadas: "Formas Únicas de Continuidade no Espaço"

Artistas Relacionados: Boccioni



  Palavras-chave

#futurismo #esculturaviva #históriadaarte #releitura #boccioni #arteconceitual #arteperformatica #artecontemporanea #artebrasileira


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Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal  de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury


Alexandre MuryFormas Múltiplas de Continuidade no Espaço2024HappeningCasa de Cultura Villa Maria, Campos dos Goytacazes, RJ

A intervenção artística de Alexandre Mury, intitulada 'Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço', foi realizada na Casa de Cultura Villa Maria, em Campos dos Goytacazes–RJ. Inspirada na icônica escultura "Formas Únicas de Continuidade no Espaço" (1913) de Umberto Boccioni, um marco do movimento futurista italiano, a obra de Mury transcende a simples homenagem. Ele se apresentou como uma 'escultura viva', vestindo um traje dourado metalizado, imobilizado em uma pose desconfortável por cerca de uma hora.


O ponto mais inovador desta obra de Mury é a utilização do Google Maps como plataforma para documentar e perpetuar o acontecimento. O público foi incentivado a fotografar e compartilhar as imagens da performance nas redes sociais e no Google Maps, criando um monumento digital acessível que contrasta com a efemeridade da intervenção no espaço real. A intervenção é um "'site-specific' digital", onde o espaço virtual se torna uma extensão do espaço físico, e a arte transcende a materialidade convencional.  Mury redefine a ideia de monumento e amplia os limites da arte contemporânea.


O trabalho de Mury levanta questões profundas sobre a natureza da memória, autoria e o papel da tecnologia na arte contemporânea.  A abordagem inovadora amplia as discussões sobre a arte, em torno da relação entre o real e o virtual, a efemeridade e a permanência, e a coautoria na arte.

 'Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço' provoca uma série de reflexões e discussões em torno da arte contemporânea, criando experiências que envolvem profundamente o público.  Esta obra conceitualmente inovadora é também desafiadora e laboriosa nos diversos desdobramentos


O impacto da intervenção é multifacetado:


1- Interação e Coautoria:

A participação do público na documentação e compartilhamento da performance subverte a noção tradicional de autoria. Cada fotografia tirada e compartilhada adiciona uma camada única à obra, tornando o público coautor e participante ativo na criação e perpetuação da arte.


2 - Monumento Digital:

A utilização do Google Maps transforma a performance efêmera em um marco digital permanente. Este "monumento digital" é acessível globalmente, permitindo que a obra alcance um público muito além dos presentes fisicamente na Casa de Cultura Villa Maria. Este aspecto desafia as noções de temporalidade e permanência na arte.


3 - Exploração de Ambiguidades:

Mury utiliza ambiguidades conceituais para provocar uma reflexão profunda sobre percepção, legitimação, subjetividade, cooptação, fluidez, desconstrução, racionalidade, linguagem, semiologia e semiótica. A obra instiga debates e reflexão crítica sobre a natureza da arte. Mury transformou-se em uma 'escultura viva', explorando a tensão entre movimento e imobilidade, físico e digital, passado e presente, originalidade e apropriação...


4 - Legislação e Discussão Acadêmica:

A intervenção de Mury levanta questões importantes sobre a regulamentação e a legislação da arte no espaço digital e físico. A obra tem o potencial de ser uma referência seminal para debates acadêmicos e legislativos, influenciando futuras políticas culturais e artísticas.


5 - Relevância Cultural e Histórica:

Realizar a performance em Campos dos Goytacazes, uma cidade com uma rica história cultural, adiciona uma camada de significado ao trabalho. A proposta de doar a obra digital à Universidade Estadual do Norte Fluminense e a inclusão da performance em futuras exposições no Museu de Arte Contemporânea da USP reforçam a importância da obra no contexto cultural e acadêmico.



Monumento (Marco histórico): Formas Múltiplas de Continuidade no EspaçoData do evento: Dia 12 de julho, de 2024
Casa de Cultura Villa MariaR. Baronesa da Lagoa Dourada, 234 - Centro, Campos dos Goytacazes - RJ, 28035-200

O monumento digital associado ao acontecimento "Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço" de Alexandre Mury, localizado na Casa de Cultura Villa Maria em Campos dos Goytacazes, RJ, deve ser acessível no Google Maps. Os visitantes podem usar as coordenadas geográficas fornecidas (21°45'09"S 41°20'01"W), um link ou a busca na plataforma para localizar a posição precisa do monumento. 

Coordenadas Geográficas GMS

21°45'09"S 41°20'01"W

Essa é a forma mais tradicional de representar um ponto na superfície da Terra, utilizando graus, minutos e segundos (GMS).


Folha da Manhã - 17 de Julho de 2024

Folha Dois - Dora Paula Paes


PERFORMANCE - Representação da mais célebre obra do futurista Italiano Umberto Boccioni, a escultura "Formas Únicas da Continuidade no Espaço"


Campos ganha obra intangível de Mury


A primeira obra no universo digital, de Alexandre Mury, agigantou os jardins da Casa de Cultura Villa Maria

A obra interativa do artista Alexandre Mury agigantou os jardins da Villa Maria, na sexta-feira (12). Mury marcou o espaço com a peça performática da obra mais célebre do futurista italiano Umberto Boccioni, a escultura "Formas Únicas da Continuidade no Espaço", de 1913. A cidade de Campos, pioneira na luz elétrica no Brasil, inaugura a primeira obra intangível no universo digital a partir do trabalho de Mury.


"É um tipo de intervenção urbana digital. Eu exploro o mundo paralelo correspondente direto do mundo real. Eu me instalo no Google Maps com a legitimação de testemunhas. No meu trabalho, o público é cocriador", destaca o artista.


Segundo ele, foram três anos na elaboração do trabalho exposto, entre pesquisa, leitura, referências, reflexões... Já consagrado, Mury informa que a apresentação em Campos reinaugura sua produção artística. "Eu me reinvento a partir desta obra, me atualizando com o que é arte contemporânea, desafiando as noções tradicionais de arte, espaço público e envolvimento do público na era digital", explica.


A performance de Mury ofereceu ao público interpretação. Ele encarna a escultura, vestido com um traje dourado especialmente desenhado que interage com o vento nordeste da planície para criar uma sensação de movimento e dinamismo. Esta interpretação ao vivo foi pensada para ter uma duração de 15 minutos, no entanto, ele ficou por uma hora, em uma pose desconfortável, no calor, imóvel... tudo para oferecer a experiência conceitual.


"É no plano das ideias que tudo acontece. As provocações são intelectuais, mas também sensíveis. Não é preciso tanta profundidade teórica, basta estar atento aos modos convencionais que nos fazem autômatos da vida contemporânea", aprofunda sobre o que o transporta a tamanhas experiências.


Numa reviravolta única, os participantes desempenharam um papel crucial na documentação da performance. Ao utilizar seus smartphones, eles capturaram imagens de Mury. Estas imagens, partilhadas no Google Maps, transcenderam a natureza efêmera do evento ao vivo, criando um monumento digital duradouro e acessível a todos. Inclusive, o artista irá avisar à Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), mantenedora da Casa de Cultura Villa Maria, por conseguinte ao Estado, que instalou o monumento no espaço e, agora, reivindica a incorporação ao patrimônio. "Essa é a provocação", garante, ao afirmar ser sua contribuição para futuras legislações.


No caso, sua ambição vai além da performance em si. Ele vê este monumento digital como um catalisador de mudança, gerando discussões sobre o estatuto jurídico da arte digital em espaços públicos. Ao instalar um marcador de pedra permanente embutido com um código QR no local da apresentação, Mury pretende unir os reinos físico e digital. O escaneamento do código desbloqueia uma experiência de realidade aumentada, permitindo que futuros visitantes interajam com uma representação virtual da obra de arte.


E têm próximos passos. A obra fincada no jardim da Villa Maria e com acesso via o Google Maps será apresentada, de acordo com Mury, em São Paulo, possivelmente até o final deste ano; o trabalho original de Boccioni integra a coleção do Museu de Arte Contemporânea (MAC).


No mundo da arte brasileira, Alexandre Mury é celebrado por sua abordagem inovadora. Seu trabalho frequentemente reimagina peças históricas da arte canônica, usando performance, fotografia, escultura e instalação para criar experiências imersivas que desafiam a percepção da realidade pelos espectadores. A arte de Mury foi apresentada em instituições de prestígio em todo o Brasil, incluindo o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu de Fotografia de Fortaleza (MFF).

Resumo da entrevista:

O Nascimento de um Artista e Inspirações

 

Aos três anos de idade, Alexandre Mury foi reconhecido por seu talento artístico por sua professora do jardim de infância, que o chamava de "Van Gogh". Ele atribui esse reconhecimento precoce à sua mãe, que o ensinou a traçar sua mão com uma caneta, levando-o a desenvolver um estilo de desenho único. Embora inicialmente intrigado pelos autorretratos de Van Gogh e Frida Kahlo, Mury só mais tarde desenvolveu uma apreciação por seus estilos de pintura. Ele é atraído pelo aspecto conceitual da arte, onde a imagem atua como um veículo para ideias, transcendendo uma leitura superficial da estética. 


Reconhecimento Internacional e Lidando com a Fama 


A arte de Mury conquistou reconhecimento internacional, com pessoas o reconhecendo em lugares como Los Angeles e Itália. Seu trabalho foi apresentado em museus importantes e coleções particulares, incluindo o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a coleção de Gilberto Chateaubriand. Embora reconheça que a fama é frequentemente um resultado desejado para os artistas, Mury admite sentir-se apreensivo sobre o nível de notoriedade que atingiu. O processo do artista e os meios preferidos Mury investe um tempo significativo em pesquisa, reflexão e estudo para sua arte, com algumas peças levando anos para serem concluídas. Ele desafia a noção de improvisação, enfatizando o planejamento meticuloso por trás de suas criações aparentemente sem esforço. Embora conhecido principalmente pela fotografia, Mury incorpora elementos de escultura, desenho, instalação e iluminação em seu trabalho. Ele ainda confunde as linhas entre artista e obra de arte por meio da arte performática, usando seu próprio corpo como uma ferramenta de expressão. Seu trabalho recente envolve a criação de esculturas efêmeras, convidando a participação do público e a intervenção digital por meio de plataformas como o Google Maps. 


Engajando-se com os mestres: reinterpretando a história da arte 


O trabalho de Mury é fortemente influenciado pela história da arte, dialogando com artistas renomados como Tarsila do Amaral, Leonardo da Vinci e Umberto Boccioni. Ele reinterpreta obras icônicas como "Abaporu" e "Unique Forms of Continuity in Space", oferecendo perspectivas contemporâneas sobre essas obras-primas. Mury vê essas peças reinventadas como oportunidades de apresentar ao público a história da arte, ao mesmo tempo em que desperta novas interpretações. Ele acredita que a arte não é estática e que revisitar uma obra após um instante curto ou um período distante, produz uma experiência diferente, enriquecendo seu significado ao longo do tempo. Seu trabalho geralmente inclui referências sutis a vários artistas, criando interpretações em camadas que vão além de uma simples homenagem à peça original.


Política, transgressão e censura na arte 


Mury reconhece a transgressão inerente na reinterpretação de obras de arte canônicas, desafiando noções tradicionais de reverência artística. Seu trabalho se aprofunda em temas complexos de filosofia, política, psicanálise e ideologia, muitas vezes mascarados por humor e comentários sociais. Ele vê sua arte como uma forma de caricatura contemporânea, provocando diálogos sobre questões sociais. Ele está particularmente interessado em explorar a relação em evolução entre religião e política, usando simbolismo e performance para questionar estruturas de poder. Mury desconfia da natureza censória das mídias sociais, referindo-se a elas como "inquisição cibernética". Ele acredita que, embora ofereça uma plataforma para expressão artística, também pode levar a julgamento e condenação rápidos, impactando artistas que desafiam as normas sociais. 


Educação, Tecnologia e o Futuro da Arte 


Mury é um defensor da educação, enfatizando a importância de nutrir a curiosidade e o pensamento independente em jovens artistas. Tendo ensinado em várias instituições, ele reconhece o valor dos educadores que incentivam a exploração pessoal além do aprendizado estruturado. Ele acredita que, embora a tecnologia desempenhe um papel significativo na formação da arte contemporânea, é crucial que os artistas mantenham sua autonomia criativa e evitem se tornar excessivamente dependentes de ferramentas como inteligência artificial. Olhando para o futuro, Mury expressa entusiasmo pelas tendências emergentes na arte contemporânea, particularmente a bioarte, que explora a intersecção entre arte, ciência e organismos vivos. Ele é cativado pelo potencial dos artistas de manipular elementos naturais, ultrapassando limites e criando expressões poéticas por meio de meios não convencionais.

Historiografia da representação do dinamismo do corpo humano 

O futurismo dialógico e anacrônico

Escultura de bronze de um homem andando. A escultura é uma obra futurista que representa o movimento e a velocidade. O homem é retratado como uma forma abstrata, com seus membros deformados representando a memória da ação, alusão ao registro do rastro dos gestos recentes.A escultura é um exemplo da inovação artística do movimento futurista.
© 2023 The Museum of Modern Art

Umberto BoccioniFormas Únicas de Continuidade no Espaço1913 (fundição 1931 ou 1934)Bronze111,2 x 88,5 x 40 cmMoMA

No Manifesto Técnico da Escultura Futurista, Boccioni expressa forte aversão tanto ao mármore quanto ao bronze, que pertencem à escultura estática do passado. No Manifesto ele lista seus materiais preferidos (vidro, madeira, papelão, ferro, gesso, crina, couro, tecido, espelho, luz elétrica, etc.) e zomba da ideia de que as obras plásticas deveriam ser constituídas por um único material.


A obra original é em gesso e durante a vida de Umbeto Boccioni nunca foi realizada a respectiva cópia em bronze. A primeira versão de bronze (na verdade, latão acobreado), feita em 1931, não possui a base única sobre a qual, no original de gesso, são inseridos os dois paralelepípedos de apoio. Partes dos pés poderiam ser destacadas, facilitando assim o transporte, mas as costuras de descolamento não são reproduzidas nas traduções subsequentes.


Pela primeira vez, 'Formas Únicas de Continuidade no Espaço' foi exibida na exposição dedicada a Boccioni realizada no Castelo Sforzesco em 1933. No ano seguinte, a Câmara Municipal de Milão adquiriu a obra. Outros exemplares estão preservados em importantes museus pelo mundo. 


Apesar da aversão de Boccioni ao bronze, sua reprodução gerou confusão entre o original em gesso e as traduções em bronze. Boccioni rejeita a escultura tradicional, sua obra é um ícone de renovação na arte, no entanto, a escultura deve ser vista de perfil esquerdo, semelhante à abordagem de perspectiva limitada na arte egípcia e à escultura helenística 'Vitória de Samotrácia'.

A versão original em gesso de Formas Únicas de Continuidade no Espaço de Boccioni está em São Paulo. A escultura ficou amarela com o tempo, além disso, foi distorcida por três restaurações, em 1960, 1971 e 1986. 

© Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo 

Umberto BoccioniFormas únicas da continuidade no espaço1913, fundição 1960Bronze 116,2 cm x 88,3 cm x 40,2 cmMAC USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo)

Em 1952, os gessos foram vendidos a Francisco Matarazzo que, um ano depois, os doa ao MAM onde é novamente traduzido em bronze, em 1960. Também, em 1972, a Tate pede para tirar um ulterior bronze do gesso de S. Paulo.

Imagem divulgada sob Creative Commons CC-BY-NC-ND (3.0 não portada)

Umberto BoccioniFormas únicas da continuidade no espaço1913, fundição 1972Bronze1175 × 876 × 368 mm 55kgTate

Do gesso que está exposto no Museu de Arte Contemporânea, em São Paulo, dois moldes foram feitos em 1931 (um está em exibição no Museu de Arte Moderna), outros dois foram feitos: em 1949 (está em exibição no Metropolitan Museum of Art) e em 1972 (está em exibição na Tate Modern). Outros oito, em 1972, não do gesso original, mas de um molde de 1949; seis dos quais estão em instituições públicas, incluindo o Museu de Israel, Jerusalém; Museu de Arte de Nova Orleans; Städtische Kunsthalle, Mannheim; Museu Kröller-Muller, Otterlo; Museu de Arte Contemporânea de Teerã; e Museu ao Ar Livre de Hakone, Ninotaira.

© Metropolitan Museum of Art

Umberto BoccioniFormas únicas da continuidade no espaço1913, fundição 1950Bronze 121,3 × 88,9 × 40 cm90,7 kgMetropolitan Museum of Art

Benedetta Marinetti herdou os gessos com a morte do marido, em 1949 faz tirar duas cópias em bronze com a base única pela Fundição Nicci di Roma, uma vendida para Winston Malbin (agora no Metropolitan) e uma para Paolo Marinotti da qual a Galleria La Medusa realiza, em 1972, vários outros exemplares em bronze, entre elas aquela comprada pelo galerista Sidney Janis.



Umberto BoccioniRegistros fotográficos de 'Formas de Continuidade no Espaço'33 x 26,6 cmColeção particular

Depois da morte prematura de Boccioni, em 1916, aos 33 anos, sua família mudou-se de Milão para Verona e confiou as pesadas esculturas de Boccioni a Piero da Verona, aparentemente um amigo, mas não um artista que apreciava o trabalho de Boccioni (Marinetti o chama de “invejoso”). Ele os guardou por 12 anos, mas depois os enviou para o lixão local, onde foram imediatamente desmontados.


Ao saber disso, Marinetti, escritor e poeta italiano, amplamente conhecido por ser o fundador e líder do movimento artístico futurista, comprou providencialmente o gesso sobrevivente de 'Formas Únicas de Continuidade no Espaço' em 1928 e encomendou os primeiros moldes de bronze em 1931. Mesmo sabendo, que no Manifesto Técnico da Escultura Futurista, Boccioni expressa forte aversão tanto ao mármore quanto ao bronze

© 2019 por Anders Rådén e Matt Smith

Anders Rådén e Matt SmithRecriação digital de "Formas de Continuidade no Espaço"2019Escultura 3D software: Pixologic ZBrushwww.boccionirecreated.com

A destruição, em 1927, de diversas esculturas em gesso do artista futurista Umberto Boccioni representou uma grande perda para a arte de vanguarda. Os artistas Matt Smith e Anders Råden recriaram quatro das figuras icônicas do artista usando arquivo fotográfico de registros feitos no ateliê de Boccioni. 


A reconstrução de "Formas Únicas de Continuidade no Espaço" e impressão em 3D, em escala real, usando técnicas inovadoras, foi exibida em 2019, na exposição "Recreating the Lost Sculptures", na Estorick Collection, em Londres.

FT Marinetti ao lado de 'Formas Únicas de Continuidade no Espaço'. Imagem publicada no jornal 'Il Secolo Illustrato', em janeiro de 1917.Arquivo do MAC USP em São Paulo (doada por Zeno Birolli).

Hoje, tudo o que resta são cerca de 30 fotografias do estúdio de Boccioni e três exposições: em Paris, Milão e São Francisco.  Ao analisar as esculturas sobreviventes e estudar fotografias históricas, torna-se evidente que o gesso mudou de aparência ao longo do tempo. 


Foi realizada um “engenharia reversa” digital, de volta ao seu estado original com a ajuda das fotografias do gesso de 1913. A única peça sobrevivente foi 'Formas Únicas de Continuidade no Espaço', mas os grandes desvios no molde de 1931 indicam que devem ter havido alterações deliberadas no gesso de 1913, até mesmo, antes da fundição. A obra já estava deteriorada, e piorada a situação com o resultado de múltiplos esforços desastrosos de restauros. 

© 2019 por Anders Rådén e Matt Smith

Anders Rådén e Matt SmithRecriação digital e réplica de "Formas de Continuidade no Espaço"2019Imagem Digital da Escultura 3D e modelo impresso em 3D escala real.Software: Pixologic ZBrushwww.boccionirecreated.com

Uma versão revisada em escala real de Formas Únicas de Continuidade no Espaço foi impressa e montada em 3D, em 2022. As esculturas recriadas de Boccioni, não só permitiram que o público moderno visse, pela primeira vez, as esculturas perdidas (Síntese do Dinamismo Humano, Aceleração dos Músculos e Expansão Espiral dos Músculos em Movimento) mas também uma versão de 'Formas Únicas de Continuidade no Espaço' sem as adulterações.

© 2019 por Anders Rådén e Matt Smith

Anders Rådén e Matt SmithRecriação digital de 'Síntese do Dinamismo Humano', 'Aceleração dos Músculos', 'Expansão Espiral dos Músculos em Movimento' e 'Formas únicas de continuidade no espaço' (esculturas de Umberto Boccioni)2019Escultura 3D software: Pixologic ZBrushwww.boccionirecreated.com

As grandes esculturas em gesso se agrupadas em torno de 'Formas únicas de continuidade no espaço' são quatro figuras que caminham a passos largos. Fica evidente as comparações com as figuras alinhadas.


A maior, mais antiga e mais desajeitada das figuras, 'Síntese do Dinamismo Humano' destaca-se entre as quatro pela falta de síntese suave; na segunda figura, 'Aceleração Muscular' o movimento parece mais derreter do que quebrar em pedaços; a terceira escultura, Expansão Espiral dos Músculos em Movimento, ainda se parece muito com um corpo humano musculoso tirando a roupa; já em Formas Únicas de Continuidade no Espaço parece a escultura resultante de estágios de investigação da complexidade do 'movimento'.


Umberto Boccioni: Recreating the Lost Sculptures Exposição realizada na  Estorick Collection, em 2019Vídeo de Phil Poppy 2ª câmara: Noah Samuelsson-Poppy

20 centavos de Euro ItalianoRelevo da escultura 'Forme Uniche di Continuità nello Spazio' (Formas Únicas de Continuidade no Espaço) de Boccioni, no anverso, cercada de 12 estrelas de cinco pontas representando a União Europeia, à esquerda o monograma da República Italiana (RI sobreposto), à direita o sinal da casa da moeda e o monograma da autora Maria Angela Cassol (MAC).A borda é lisa com sete reentrâncias (flor espanhola)O verso tem uma face comum e a outra que depende do país da zona euro.22,25 mm de diâmetro, 2,14 mm de espessura, 5,74 de gramas peso.Feita de uma liga chamada 'ouro nórdico'.

O número de cópias de 'Formas Únicas de Continuidade no Espaço' aumentou desde a década de 1960 e agora é difícil de calcular quantas traduções em bronze existem. Boccioni nunca seguiu a ideia de múltiplos, o que torna irônico que a escultura tenha se tornado um ícone em moedas e reproduções em grande escala.


A Itália escolheu destacar a escultura de Boccioni em sua moeda de 20 centavos como um tributo à importância da obra e ao impacto do futurismo na arte e na cultura italianas. Esta moeda faz parte da série de moedas de euro de uso comum em toda a zona do euro, mas que apresenta um design único no lado nacional de cada país membro para celebrar sua cultura, história e realizações.

© Staatliche Museen zu Berlin

GiambolognaMarte GradivoAntes de 1580Escultura em bronze39,6 x 9,4 cmStaatliche Museen zu Berlin

Conhecido como 'Mars Gradivus' é uma referência ao epíteto de Marte, o deus romano da guerra, que significa "Marte, o que avança".  Nesta representação, os atributos habituais de Marte – capacete, escudo, lança – estão ausentes, com apenas uma espada segura no punho direito, o deus é exibido nu.


A figura musculosa é mostrada em uma postura complicada e calculada com precisão, em que o movimento expansivo do tronco fortemente torcido é continuado ritmicamente nos braços estendidos e nas pernas vigorosas.  Ele está voltado para a esquerda, com o peso para frente sobre a perna direita, o calcanhar ligeiramente elevado, do pé recuado, contribui para o dinamismo da figura. 


Autor desconhecidoProvavelmente derivadas de um original grego do século IV . ACA Gradiva (detalhe do relevo das Aglaurides)Museu Chiaramonti, Vaticano

"Gradiva", que significa "aquela que caminha" em latim, é uma figura mitológica moderna originada do romance de Wilhelm Jensen, intitulado "Gradiva: Uma Fantasia Pompeiana" (1903). Este romance chamou a atenção de Carl Gustav Jung, que o recomendou a Sigmund Freud. Em seu ensaio intitulado "Delírio e Sonhos em 'Gradiva' de Jensen" (1906), Freud analisou a obra literária como se fosse um caso psiquiátrico, explorando como estímulos externos podem desencadear tensões psíquicas profundamente arraigadas.


Em sua residência em Roma, onde Freud também era um colecionador de arte antiga, ele adquiriu uma cópia do relevo inspirado em "Gradiva", que ele então pendurou na parede de seu escritório, próximo ao famoso divã onde conduzia suas sessões de psicanálise. Essa peça simboliza a interseção entre a arte e a psicologia, desempenhando um papel intrigante em sua análise literária e psicanalítica.


Autor desconhecidoMolde de um original do Museu do VaticanoGradivac.1908Relevo em gesso75,5 x 42 x 7 cmFreud Museum London


Arte Egípcia (autor desconhecido)Cerca de 2.000 a.C.Afresco (Detalhes: há 122 pares de gladiadores em cinco fileiras representando uma batalha, e nenhum deles está na mesma pose)Tumba 15 (Tumba do antigo oficial egípcio Baqet III), Beni Hasan

As pinturas murais de Beni Hassan são particularmente notáveis por sua tentativa de capturar o movimento e a energia das figuras humanas e por sua capacidade de contar histórias visuais. Ao contrário de muitas outras representações egípcias que são estáticas e icônicas, essas imagens são mais narrativas, capturando momentos de ação que parecem quase cinematográficos em sua apresentação. 


A narrativa que coloca a arte grega como a “pioneira” na representação do movimento corporal ignora a sofisticação e a longa tradição egípcia. Embora os gregos tenham elevado o estudo do movimento a novos patamares, é inegável que a arte egípcia já havia estabelecido fundações sólidas nessa área.


Arte Egípcia (autor desconhecido)Khnumhotep II retratado enquanto caçava aves aquáticas nos pântanos2050–1650 a.C.Fresco (detalhe)Beni Hassan, Tomb of Khnumhotep II

Em cenas como a de Khnumhotep II caçando aves aquáticas nos pântanos, vemos uma representação detalhada do corpo em movimento, com uma postura inclinada, braços estendidos e o uso de linhas fluidas para sugerir o dinamismo da cena. 


Arte Egípcia (autor desconhecido)Soldados egípcios, representando a expedição a Punt (na Núbia)Relevo (detalhe)1493 a.C.Deir El-Bahri, Templo de Hatshepsut

Os gregos começaram a desenvolver suas representações do corpo humano por volta do século VIII a.C., cerca de mil anos depois das primeiras representações sofisticadas de movimento na arte egípcia. A escultura grega do Período Arcaico foi claramente influenciada pela arte egípcia, especialmente no uso da frontalidade e da rigidez.



Arte Etrusca (autor desconhecido)Dançarinos e músicos: Aulos player (detalhe do friso)Século V a.C. AfrestoTarquinia, Tomb of the Leopards

Esse detalhe do afresco, datado de 480-450 a.C., retirado de um contexto de uma cena que mostra dançarinos e músicos em movimento, capturando um momento de energia e vida que contrasta fortemente com a natureza funerária do local. As vestes fluídas e os gestos amplos dos personagens demonstram uma tentativa precoce de representar o corpo em ação, uma preocupação que continuaria a evoluir na história da arte.


As pinturas murais, como as da Tumba dos Leopardos, revelam uma vitalidade e uma dinâmica corporal que transcendem a mera representação estática. Apesar de sua originalidade, a arte etrusca sofreu uma forte influência da Grécia, especialmente durante o primeiro quarto do século V a.C., o que é visível na coloração e na representação gestual dos afrescos. O legado etrusco sobreviveu na arte romana.



Autor desconhecidoO Túmulo das Dançarinas ou Túmulo das Mulheres DançarinasFinal do século V a.C.  até meados do século IV a.C.Túmulo peucetiano em Ruvo di Puglia , Itália

Os peucetianos tomaram emprestada a prática de pintar túmulos dos etruscos, que tiveram uma influência importante em sua cultura. O túmulo recebeu o nome das mulheres dançando que aparecem nos afrescos do túmulo. Os painéis com os afrescos estão agora expostos no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles.

 A pintura mural de mulheres dançando com as mãos cruzadas é típica, encontrada no sul da Itália e datada de cerca de 400 a.C. Esta dança, provavelmente a antiga dança das virgens veladas em homenagem a Deméter, é considerada a ancestral da dança tradicional, hoje conhecida como “dança do arrasto”.

Se tentarmos agora imaginar a evolução da coreografia em torno do corpo do falecido, podemos admirar a ondulação das túnicas claras, vermelhas ou azuis, ouvir o barulho do farfalhar das roupas e o passo rítmico dos bailarinos ao ritmo dado pela lira. 

estátua em terracota, representado Apollo de Veios


Atribuído a VulcaApollo de Veios510-500 a.C.Terracotta policroma180 cmMuseo Etrusco di Villa Giulia

Este Apolo é uma das peças mais bem preservadas da arte etrusca e, embora tenha influências notáveis da arte escultórica grega, ele também reflete uma identidade artística única e distinta. A representação de Apolo em pleno movimento é menos dinâmica que as gregas, mas também não tem a rigidez das esculturas egípcias. Ele está vestido, o que é um desvio das convenções gregas, onde a nudez era mais comum em esculturas que retratavam deuses ou figuras mitológicas. A escultura adota um estilo etrusco jônico 'internacional' ou arcaico tardio, que combina influências gregas com características como o drapeado das roupas e o típico 'sorriso arcaico'.


Os etruscos estavam em contato com os gregos e adaptaram elementos gregos em sua própria arte, mas também deixaram sua marca distintiva. Isso é uma evidência da capacidade dos artistas antigos de observar, assimilar e reinterpretar influências de diferentes culturas. O "Apolo de Veio" é, portanto, uma prova tangível da riqueza cultural e da diversidade estética na antiguidade.


O 'Apolo de Veio' incita reflexões sobre o desenvolvimento da arte, representando uma transição de um estilo mais arcaico para uma expressão aprimorada do movimento. No entanto, a evolução na arte não segue uma trajetória linear em direção ao realismo ou ao naturalismo. A história da arte é marcada por uma diversidade de estilos e movimentos ao longo das eras, incluindo abstração e expressão pessoal. O 'Apolo de Veio' permanece importante como um exemplo vívido da interação cultural e das mudanças artísticas ao longo da história, enriquecendo nossa compreensão da arte.


Cópia romana (por volta de 140 D.C.) a partir de um original grego (450 a.C)"Discóbolo" de MíronMármore155 cmMuseo nazionale romano di Palazzo Massimo

A escultura original do "Discóbolo" de Míron se perdeu. Criada por volta de 450 a.C., durante o auge do período clássico grego, a obra original foi feita em bronze, um material valioso que era frequentemente derretido e reutilizado, o que pode explicar o desaparecimento da peça original.


Míron era um renomado escultor grego, famoso por sua habilidade em capturar o movimento e a anatomia humana de forma naturalista. O "Discóbolo", ou "Lançador de Disco", é uma das suas obras mais icônicas, representando um atleta no momento de máxima tensão antes de lançar o disco. A escultura captura um momento de equilíbrio dinâmico, com o corpo torcido em uma pose que sugere movimento e energia latente.


Apesar da perda do original, a obra de Míron foi amplamente admirada na Antiguidade, o que levou à criação de várias cópias em mármore por escultores romanos, que apreciavam e colecionavam a arte grega. Essas cópias, muitas das quais sobreviveram até hoje, permitem que continuemos a apreciar o gênio de Míron. 




Atribuída à escola de Bryaxis ou TymotheosAmazonomaquia (batalha das Amazonas)Mármore pentélico, friso (Detalhe do relevo)Meados do século IV a.C.National Archaeological Museum in Athens

Nesta cena, as amazonas, são representadas como guerreiras que enfrentam o soldado grego com igual determinação e habilidade. A postura dela, com os pés firmemente plantados no chão e os joelhos flexionados, espelha a do guerreiro grego, sugerindo uma paridade de força e habilidade no combate. 


O friso retrata um confronto entre uma amazonas, cujas vestes, em movimento, complementam a ação enérgica da batalha em que a pose espelha a do guerreiro grego nu, destacando tanto a habilidade técnica dos escultores quanto as complexas mensagens culturais subjacentes. A escolha de apresentar o guerreiro grego nu, enquanto as amazonas permanecem vestidas, não é meramente um detalhe estético, mas um reflexo das normas culturais e sociais da época. 


Durante o Renascimento, por exemplo, a retomada dos ideais clássicos muitas vezes colocou a ênfase no homem como o protótipo do herói, relegando as mulheres a papéis secundários. Sob ideologias como o fascismo, que glorificavam a virilidade, a figura do guerreiro nu poderia ser reinterpretada como um símbolo da superioridade masculina, enquanto a força e a igualdade das amazonas poderiam ser ignoradas ou minimizadas. 

Foto: © 2022 Artists Rights Society (ARS), Nova York / SIAE, Roma, cortesia de Nahmad Contemporary, Nova York

Giorgio de Chirico,Gladiatori (Gladiadores)1928Óleo sobre tela51 x 38,25 Nahmad Contemporary, Nova York

Na série "Gladiatori" de Giorgio de Chirico, o artista usa representações inexpressivas e desajeitadas de gladiadores para satirizar a masculinidade idealizada, em contraste com as obras clássicas. De Chirico se apropria de referências visuais, como mosaicos romanos e filmes épicos, para criticar tanto a cultura masculina dominante da vanguarda quanto a ideologia fascista de Mussolini, que promovia a virilidade como um valor essencial. Seus gladiadores, ineptos e emasculados, desafiam a narrativa de heroísmo e vigor, oferecendo uma visão irônica e subversiva da masculinidade.


Em um período em que o Fascismo está se tornando mais poderoso na Itália, De Chirico parece criticar a imposição dessas ideologias ao mostrar gladiadores que, apesar de suas poses heroicas, carecem do vigor e da virilidade exaltados pelo fascismo. Ao invés de exaltar a masculinidade e o poder, De Chirico despoja seus gladiadores de qualquer heroísmo ou glória, transformando-os em símbolos de uma masculinidade falha e ineficaz, talvez como uma crítica ao uso politizado da arte para promover ideais de virilidade e dominação.


Leonardo da VinciHomem Vitruvianoc. 1490Caneta e aquarela sobre ponta de metal sobre papel34,4 x 24,5 cmGallerie dell'Accademia, Veneza

Leonardo da Vinci, com seu "Homem Vitruviano" (c. 1490), explorou a perfeição das proporções humanas através de um estudo que sintetiza ciência, arte e filosofia. Este desenho icônico não é apenas um estudo anatômico; é uma representação da busca renascentista pela harmonia entre o corpo humano e o universo. A figura inscrita em um círculo e quadrado reflete a crença de que o ser humano é uma medida de todas as coisas, unificando corpo, mente e cosmos em uma simetria perfeita.


Séculos depois, na esteira do futurismo, Umberto Boccioni desafiou as convenções clássicas com "Formas Únicas de Continuidade no Espaço" (1913). Enquanto Da Vinci buscava a harmonia estática, Boccioni celebrava o movimento e a velocidade da vida moderna. Sua escultura, com suas formas distorcidas e fluidas, captura a essência do dinamismo e a energia ininterrupta do corpo humano em ação. É uma ruptura com o passado e um salto para o futuro, simbolizando a fusão do homem com a máquina e a incessante transformação da sociedade.


Essas duas obras, embora separadas por mais de quatro séculos, compartilham uma preocupação comum: a representação do corpo humano em sua relação com o espaço e o tempo. Enquanto Da Vinci olhava para o passado clássico e tentava encontrar o lugar do homem no universo, Boccioni projetava o futuro, onde o homem se tornaria uma extensão da própria modernidade.


Theodore GericaultEstudo Acadêmico de um HomemÓleo sobre papel colocado sobre tela29,2 x 22,8 cm

Théodore Géricault foi extremamente significativo na exploração da expressão do corpo humano e seu dinamismo, e isso é um aspecto central em sua obra. Géricault explora a fisicalidade e a emocionalidade dos corpos em ação. O corpo humano é retratado em poses que sugerem esforço, movimento e, por vezes, combate. 


A postura de um corpo avançando, com uma perna à frente, está presente em muitas de suas composições, refletindo o mesmo dinamismo que encontramos na escultura de Boccioni. Ambos, no entanto, compartilham uma preocupação com a representação da energia e do movimento, seja no contexto da luta pela sobrevivência ou na celebração da modernidade.



Alfred KubinA Guerra (Der Krieg)1903 Faksimile print on heavy handmade paper35,5 × 43,8 cmEdição de 1000Coleção particula

Kubin oferecia uma visão sombria e introspectiva do futuro, onde o progresso não era apenas uma promessa de inovação, mas também uma ameaça de aniquilação. A figura avançando em "A Guerra" pode ser comparada ao avanço dinâmico de formas na obra de Boccioni, onde o movimento não é apenas físico, mas também psicológico e social.


"A Guerra" de Kubin, com sua representação de um cenário caótico e apocalíptico, é impregnada de uma atmosfera que pressagia os horrores da Primeira Guerra Mundial, que viria a acontecer pouco mais de uma década depois. A obra, criada em uma técnica de impressão delicada sobre papel feito à mão, reflete uma visão distópica que se torna especialmente relevante no contexto da era moderna. O modo como Kubin captura o avanço da destruição e a inevitabilidade da guerra ressoa com as ideias de Boccioni sobre o movimento constante e a transformação da realidade.

© Creative Commons Zero (CC0)

Edgar DegasBailarina (Préparation en dedans)c. 1880 - 1885Carvão sobre papel amarelo33,6 x 22,7 cmColeção particular

Após a morte de Degas, mais de uma centena de estudos de dançarinos em ação foram descobertos em seu estúdio. Estes desenhos representam uma variedade de exercícios de balé, como ronds de jambes e pliés. Durante suas frequentes visitas às salas de ensaio, Degas observou jovens bailarinos executando esses exercícios diários, procurando capturar os movimentos e poses padrão em papel.

© Creative Commons Zero (CC0)

Edgar DegasMenina praticando no barC. 1878–80Giz preto e grafite, realçados com giz branco sobre papel31 x 29,3cmThe Metropolitan Museum of Art

O progressivo interesse de Degas pela representação da figura em movimento ocorreu paralelamente aos avanços na fotografia e nos primeiros filmes. De fato, o artista demonstrou uma profunda consciência desses desenvolvimentos tecnológicos e se envolveu diretamente com eles. Degas não se limitou a ser apenas o criador de imagens fascinantes do balé, mas sim um artista moderno e inovador que explorou de maneira intensa os desafios visuais e manteve-se totalmente atualizado com as evoluções tecnológicas de sua época.

© Creative Commons Zero (CC0)

Edgar DegasEdgar DegasEstudo para "Cena da Corrida de Obstáculos: O Jóquei Caído"1866Giz preto e marrom em papel tecido23,2 x 35,9 cmThe Clark Art Institute

Degas foi um dos primeiros a examinar minuciosamente instantâneos fotográficos, uma abordagem que não implicou a rejeição do conhecimento dos antigos mestres, mas sim uma compreensão mais profunda da maneira como o olho processa o que é registrado na retina, especialmente quando se trata de movimentos rápidos. A representação do passo a passo, ou de "momentos interpolados", estimulou a imaginação e se tornou uma valiosa fonte de inspiração para sua criatividade.

© Estate of Giacomo Balla / Artists Rights Society (ARS), New York / SIAE, Rome

Giacomo BallaDinamismo de um cachorro na coleira1912Óleo sobre tela89,8525 x 109,855 cmCollection Buffalo AKG Art Museum

Em 1910, Giacomo Balla e quatro colegas artistas italianos — Umberto Boccioni (1882–1916), Carlo Carrà , Luigi Russolo (1885–1947) e Gino Severini — escreveram La Pittura futurista: manifesto tecnico (O Manifesto Técnico dos Pintores Futuristas). Neste documento eles rejeitaram toda a arte anterior como prosaica. Um princípio fundamental da sua filosofia era que a expressão criativa deveria representar o dinamismo da acelerada Era Industrial do início do século XX. 


Balla pintou este cão bassê saltitante e os passos acelerados de sua dona. Os pés da mulher, a coleira e o corpo do cachorro, do nariz ao rabo, estão todos borrados e repetidos. Para aumentar a impressão de velocidade, Balla pintou o chão com linhas diagonais e colocou sua assinatura e a data em um ângulo dinâmico. Este gesto rítmico também se estende ao quadro, que contém e dá continuidade à composição.



Autor desconhecidoDetalhes, cena de caça350 d.C.Mosaico de paredeVilla Romana del Tellaro (villa of Caddeddi)

As ações são altamente vívidas e realistas. Na cena de caça, o artista se esforçou muito para reproduzir o movimento da água ao redor das pernas dos homens e animais que atravessavam o rio. 

© Pablo Picasso

Pablo PicassoDança dos véus1907Óleo sobre tela150 x 100 cmSt.Petersburg. The State Hermitage Museum

Picasso investigou diferentes possibilidades de representação do corpo no espaço. Nesta pintura, a dançarina, que parece estar em constante movimento, reflete a vitalidade e a energia da forma humana em um contexto de ação e transformação. 

A fusão entre o corpo da dançarina e o ambiente ao seu redor desafia nossa percepção dos contornos do nu feminino, criando uma sensação de fluidez e dinamismo. A forma, aparentemente construída a partir de uma série de planos geométricos intercruzados, ecoa os planos similares que compõem o espaço circundante.


Embora Picasso e os futuristas tenham compartilhado o desejo de romper com as convenções artísticas tradicionais e experimentar novas formas de representação, suas abordagens eram distintas.


O cubismo, movimento com o qual Picasso está mais intimamente relacionado, envolve a representação de objetos e formas a partir de múltiplos pontos de vista, desmontando e reorganizando as imagens de maneira fragmentada. Por outro lado, o futurismo estava mais focado em capturar as sensações e a estética da velocidade, do movimento e do desenvolvimento industrial.

© Association Marcel Duchamp/ADAGP, Paris/Artists Rights Society (ARS), New York

Marcel DuchampNu descendant un escalier, No. 21912Óleo sobre tela147 x 89,2 cmPhiladelphia Museum od Art

Nesta icônica obra de Marcel Duchamp, o artista explora uma fusão única de influências que incluem sua paixão pela infância, pelo cinema e a inspiração das imagens em movimento capturadas por Marey na França, Eakins e Muybridge na América.

Neste quadro, a representação de uma mulher nua em pleno processo de descida de uma escada, Duchamp retrata o movimento em um único instante, uma série de passos interligados, criando uma sensação de continuidade e dinamismo.


Os movimentos corporais meticulosamente integrados da figura se unem para formar uma trilha tridimensional que se estende atrás dela. Essa trilha não é apenas física, mas também simbólica, representando a jornada da figura através do espaço e do tempo.

©Museo Nacional Thyssen-Bornemisza

Umberto BoccioniDinamismo do Corpo Humano: Boxer1913Tinta sobre papel29 x 25 cmMuseo Nacional Thyssen-Bornemisza, Madrid

As teorias de Henri Bergson desempenharam um papel significativo na influência intelectual sobre o movimento futurista e, especificamente, na obra de Umberto Boccioni. Henri Bergson, um filósofo francês do século XIX e início do século XX, é mais conhecido por sua filosofia do tempo e do movimento, que teve um impacto profundo nas artes, na literatura e na filosofia da época.

©Museo Nacional Thyssen-Bornemisza

Umberto BoccioniDinamismo Muscular1913Pastel e carvão sobre papel86,3 59 cmMoMA

Uma das ideias centrais de Bergson é a distinção entre duas formas de tempo: o tempo matemático, que é mensurável e uniforme, e o tempo real ou duração, que é uma experiência subjetiva e não pode ser quantificado. Bergson argumentava que o tempo real é uma corrente contínua e fluida de experiência, em contraste com a concepção mecânica do tempo, que o vê como uma série de momentos discretos.

The Museum of Modern Art Archives

Umberto BoccioniQuero olhar para formas humanas em movimento (Decomposição Dinâmica)1913Lápis preto, tinta preta, têmpera branca e w/c branco sobre papel30 x 18cm Civiche Raccolte del Castello Sforzesco, Gabinetto dei Disegni, Milan

Boccioni e outros artistas futuristas estavam interessados em traduzir essa ideia de duração e fluidez do tempo em suas obras de arte. Eles buscavam representar não apenas um momento estático, mas a dinâmica do movimento e a passagem do tempo. Boccioni em particular, como mencionado na citação, estava envolvido na busca por uma "única forma que produz continuidade no espaço".

The Museum of Modern Art Archives

Umberto BoccioniEstudo para formas únicas de continuidade no espaço1913Lápis em papel colorido15,5 x 12,4 cmMoMA

O trabalho de Bergson também influenciou a abordagem dos futuristas em relação à representação do corpo humano em movimento. Eles acreditavam que, ao capturar o dinamismo das formas em constante transformação, estavam refletindo a natureza fluida e em constante evolução da experiência humana, alinhando-se com a filosofia de Bergson sobre a duração e a continuidade do tempo.



Anita MalfattiHomem das sete cores1915-1916Pastel e carvão sobre papel62 x 46 cmMuseu de Arte Brasileira, MAB FAAP

A obra de Anita Malfatti, inicialmente intitulada "O Movimento" quando exibida na Semana de Arte Moderna de 1922, foi posteriormente renomeada para "O Homem de Sete Cores". Essa mudança de título não é apenas uma curiosidade, mas também carrega um significado profundo. O nome original, "O Movimento", sugere uma relação direta com o dinamismo do Futurismo, movimento associado a Boccioni, evidenciado nas formas contorcidas e nos músculos exagerados da figura. 


Após seu retorno ao Brasil, influenciada pelo espírito nacionalista do modernismo, Malfatti incluiu folhas de bananeira à composição, com intuito de reforçar a identidade brasileira da obra. Essas mudanças indicam uma adaptação consciente da artista ao contexto cultural do país, ao mesmo tempo em que mantinha viva a influência das vanguardas europeias.

© Adagp, Paris

František KupkaFrantišek Kupka Mulher colhendo flores1910 - 1911Pastel, aquarela e meu grafite sobre papel45 x 47,5 cmCentre Pompidou

František Kupka, nesta obra, mostra as fases consecutivas do movimento de uma mulher levantando-se de uma cadeira e inclinando-se para frente para colher uma flor como uma série de silhuetas.  As cores seguem uma progressão cromática do frio ao quente à medida que a sequência evolui e o desfoque entre os contornos individuais sugere o caminho de um para o outro. Ao criar esta pintura, é provável que Kupka tenha se inspirado tanto na invenção da cronofotografia quanto nos objetivos dos Futuristas. 


Embora relutasse em se associar a qualquer movimento específico, Kupka trabalhou em estreita colaboração com os cubistas e foi fundamental no desenvolvimento do Orfismo. 



Giacomo BallaMenina correndo na varanda1912Óleo sobre tela125 x 125 cmGalleria d'Arte Moderna di Milano

É claro que Balla estava ciente do uso da cronofotografia por Étienne-Jules Marey e Eadweard Muybridge, e da experimentação de Anton Giulio Bragaglia. Inspirado no trabalho de fotógrafos do final do século XIX, os futuristas tentaram ao máximo capturar movimento em uma tela estática. 


Balla também recorre às técnicas do pontilhismo, as figuras repetitivas da menina são compostas inteiramente por pontos e traços em diferentes tons criando um certo ritmo que excitam os olhos. Seu movimento, linhas borradas entre cada passo, não é exatamente desarticulado nem muito fluido, mas é definitivamente contínuo.



Niccolò dell'ArcaUmberto BoccioniDinamismo de um jogador de futebol1913Óleo sobre tela193,2 x 201 cmMoMA

Até 1912, Boccioni foi pintor, mas após visitar Paris e ver inovações escultóricas como os experimentos cubistas tridimensionais de Braque em papel, Boccioni ficou obcecado com escultura. Suas esculturas caminhando continuaram o tema do movimento humano visto em suas pinturas como 'Dinamismo de um Jogador de Futebol', 1913.


Ao contrário do colega futurista Giacomo Balla, que usava formas repetidas para representar o movimento, Boccioni sintetizou diferentes posições em uma figura dinâmica.

© 2015 RMN-Grand Palais (musée du Louvre)

Autor desconhecidoVitória de SamotráciaÉpoca/período: Helenística (século II a.C.)Escultura de mármore275 cmMusée du Louvre

A deusa retratada nesta estátua está em uma pose singular. O pé direito tocou o solo, com o calcanhar ainda levemente elevado, enquanto a perna esquerda está esticada para trás, com o pé ainda no ar. Ela não parece estar caminhando, mas sim concluindo um voo, com suas grandes asas ainda abertas para trás.


O escultor demonstrou grande habilidade ao criar efeitos nos drapeados da estátua, destacando as formas do corpo e criando dobras profundas que geram sombras marcantes. Esse virtuosismo é particularmente evidente no lado esquerdo e na parte frontal da estátua. No lado direito, a disposição do drapeado é menos elaborada, consistindo principalmente nas linhas principais das roupas.


O aspecto mais notável desta escultura é que ela foi concebida para ser vista principalmente de um ângulo específico, três quartos à esquerda (ou direita para o espectador). Isso realça a sensação de que a deusa está em pleno voo, adicionando um elemento de dinamismo e movimento à obra.

Escultura de bronze representando uma figura masculina sem braços e sem cabeça.  A figura masculina está posicionada em posição ampla, com o pé traseiro voltado para o lado enquanto o pé dianteiro que sustenta o peso está apontado para a frente. Os quadris e o tronco estão para a frente, prontos para dar o próximo passo tão necessário. O movimento e o movimento estão corretos no tronco arqueado, nas pernas fortes e nos pés bem espaçados.
© Domínio público 

Auguste RodinO Homem que CaminhaModelado antes de 1900, (fundido por Alexis Rudier antes de 1914)Estátua em bronze, pátina verde85,1 cmThe Metropolitan Museum of Art

The Walking Man é uma versão de São João sem cabeça e sem braços. Esta escultura foi anteriormente considerada um estudo preliminar para o Batista completo e baseou-se no movimento daquela peça. No entanto, Rodin considerou o trabalho acabado porque capturou a essência do movimento, concentrou-se no que considerava essencial: a postura dinâmica.

A icônica obra de Umberto Boccioni, intitulada 'Formas Únicas de Continuidade no Espaço' (1913), testemunha a fusão de influências que ecoam tanto o passado quanto o presente da escultura.


A escultura é uma homenagem notável ao 'Walking Man' de Auguste Rodin, uma obra que capturou a admiração de Boccioni quando ele a viu na Exposição Universal de Roma em 1911. Essa influência se manifesta na representação dinâmica do movimento humano na obra, refletindo a busca dos futuristas por capturar a velocidade e a energia da era moderna.


Se, por um lado, Umberto Boccioni, expressou forte rejeição ao passado na forma do "Manifesto Técnico da Escultura Futurista", que defendia a ruptura com as tradições artísticas estabelecidas. No entanto, por outro lado, em suas obras, como "Formas Únicas de Continuidade no Espaço", podemos identificar o legado das influências da escultura helenística, como a "Vitória de Samotrácia". 



Niccolò dell'ArcaLamentação sobre o Cristo Morto (Detalhe de Maria Madalena)Complexo escultórico1463-1464Terracota, originalmente policromadoComposto por sete estátuas em tamanho naturalSantuário de Santa Maria della Vita, Bolonha

A figura que se destaca no grupo escultórico, com as roupas sopradas pelo vento, tem as dobras que se curvam e ondulam, criando uma sensação de dinamismo e fluidez. A representação de Maria Madalena é um dos aspectos mais notáveis da obra, criando uma cena comovente e dramaticamente carregada. Maria Madalena é retratada com uma impressionante hiper-realidade, parecendo ser literalmente esculpida pelo vento. No entanto, essa representação difere significativamente da abordagem futurista, a qual envolve fragmentação e uma estética cinética.



Gian Lorenzo BerniniApolo e Daphne1622-1625Mármore Carrara243 cmGalleria Borghese

Escultores barrocos, como o renomado Gian Lorenzo Bernini, abordaram o desafio de representar o movimento de maneira extraordinária em suas obras-primas. Um exemplo notável é o grupo escultórico "Apolo perseguindo Daphne", onde o movimento é magistralmente capturado. Nesta escultura, o próprio ato de transformação de Daphne em um loureiro é representado de maneira incompleta e em uma série de estágios intermediários. Bernini conseguiu retratar a transição de forma que demanda uma inspeção minuciosa para apreciar a complexidade do movimento em detalhe. 


O tecido que envolve Apolo parece flutuar ao redor dele, capturando a sensação do vento e do movimento rápido. Os tecidos ondulantes, com suas dobras e pregas, contribuem para a representação da velocidade e da urgência da perseguição. À medida que Apolo se aproxima de Daphne, a sensação de movimento é intensificada pelo tecido que parece acompanhar sua corrida.  



Gian Lorenzo BerniniO Êxtase de Santa Teresa1647-1652MármoreIgreja de Santa Maria della Vittoria, Roma

Bernini foi habilidoso em utilizar os tecidos não apenas como elementos estáticos, mas como partes essenciais na narrativa do movimento, fazendo com que o espectador sinta que está testemunhando uma cena em ação, onde até mesmo os tecidos ganham vida e contribuem para a sensação de dinamismo na escultura. A atenção meticulosa aos detalhes do tecido não apenas acentua a complexidade do movimento, mas também adiciona uma dimensão visual e tátil à obra. 


O virtuosismo notável na escultura, "O Êxtase de Santa Teresa", contrasta o movimento congelado do anjo com a languidez do corpo de Santa Teresa, expressa através das longas dobras e ondulações de suas vestes. As roupas da santa parecem se contorcer e tremular como se estivessem em constante movimento, ecoando a intensidade de seu êxtase espiritual. O tecido, em vez de ser uma mera representação estática, torna-se um veículo para transmitir o movimento e a emoção. A sensação de um orgasmo espiritual é evocada por essas ondulações no tecido que parecem desafiar a própria natureza da pedra, criando uma ilusão hipnótica de movimento. 


Hiroshige (I), Utagawa (gravador), Wakasaya Yoichi (Jakurindô) (editor)Desfrutando a brisa noturna na ponte Ryogoku (da série: Lugares famosos da capital oriental) Período Edo, século XIX, Cerca de 1744-1848Trípticos em xilogravuraCada folha aprox. 35 x 24,5 cmRijks Museum

Hiroshige Utagawa foi habilidoso na representação do dinamismo das figuras em movimento, usando técnicas como diagonais e linhas curvas para criar uma sensação de fluidez. Sua influência foi significativa entre artistas europeus, contribuindo para o movimento artístico conhecido como Japonismo, que afetou muitos artistas ocidentais, incluindo Edgar Degas e Henri de Toulouse-Lautrec. Esses artistas incorporaram elementos da estética japonesa em suas próprias obras, incluindo o uso de cores vibrantes e, especialmente, a representação do movimento.

© Eadweard Muybridge - Domínio Público | Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional 

Eadweard MuybridgeUm homem caminhando (Locomoção: uma investigação eletrofotográfica de fases consecutivas de movimentos)1887Colótipo18,5 x 39,2 cmWellcome Collection

Eadweard Muybridge é frequentemente creditado como o pioneiro na fotografia de movimento. Ele realizou uma série de experimentos notáveis na década de 1870.


Muybridge é famoso por seus estudos com fotografias sequenciais em movimento. Ele utilizou um arranjo de câmeras fotográficas sincronizadas ao longo de uma trilha para capturar uma sequência de imagens que documentavam o movimento do motivo fotografado em detalhes.


Seu trabalho estabeleceu a base para a análise sistemática do movimento e influenciou tanto Étienne-Jules Marey quanto Thomas Eakins em suas pesquisas posteriores.

© No known copyright restrictions

Étienne-Jules MareyL'homme máquina18851 minutoMudoPreto e brancoUma máquina tenta replicar um homem andando.

Étienne-Jules Marey, um cientista e fotógrafo francês, trabalhou paralelamente a Muybridge na década de 1880 e também contribuiu significativamente para o estudo do movimento.


Marey desenvolveu a cronofotografia, uma técnica que envolvia a captura de múltiplas imagens em rápida sucessão em um único filme fotográfico. Isso permitiu a análise detalhada do movimento de pessoas, animais e objetos.


Sua abordagem enfatizava a obtenção de informações científicas sobre o movimento e suas contribuições tiveram um impacto substancial na fisiologia e biomecânica.

© No known copyright restrictions

Thomas EakinsEstudo de movimento: nu masculino, marcadores metálicos presos ao corpo, correndo para a esquerda1885Negativo de placa seca9,2 x 11,7 cmPAFA The Pennsylvania Academy of the Fine Arts

Thomas Eakins foi um pintor e fotógrafo americano conhecido por seus retratos e estudos de movimento. Ele também trabalhou na década de 1880 e além.


Eakins estava particularmente interessado na representação artística e científica do movimento humano. Ele usou técnicas de fotografia sequencial para estudar e documentar movimentos como boxe, corridas de cavalos e gestos corporais.


Suas contribuições combinaram uma compreensão artística do movimento com um estudo detalhado da anatomia humana em movimento.

© Metropolitan Museum of Art / Coleção Gilman, Compra, Sra. Walter Annenberg e a doação da Fundação Annenberg, 2005 


Samuel Joshua Beckett “Loïe Fuller Dancing”Por volta de 1900Coreografia “Serpentine Dance” de Loie FullerImpressão em gelatina de prata10,3 x 13,3 cmThe Metropolitan Museum of Art 

Loïe Fuller é famosa por suas performances com vestidos longos e fluidos que, quando em movimento, geram formas dinâmicas. Ela combinou dança com o uso criativo de tecidos, resultando em efeitos visuais notáveis. Sua abordagem influenciou artistas na representação do movimento e da fluidez em suas obras. Sua abordagem única, influenciou de pintores a escultores com a exploração dos efeitos do dinamismo. 


O escultor Auguste Rodin colaborou com Loïe Fuller em várias ocasiões. Ele ficou impressionado com como ela usou o movimento e a luz em suas performances, e essas experiências influenciaram seu trabalho escultural, que muitas vezes busca capturar o movimento e a energia em suas obras. 


O pioneiro do cinema Georges Méliès ficou fascinado pelo trabalho de Loïe Fuller, e ele incorporou técnicas de iluminação e truques visuais em seus filmes, muitas vezes explorando a interação entre o corpo humano e a luz de maneira semelhante ao que Fuller fazia em suas performances de dança.

© National Gallery of Australia


François-Raoul LARCHELâmpada Loïe Fullerc.1900Local: França230 x 456 x 255 cmMetalurgia, bronze, douradoNational Gallery of Australia

Loïe Fuller foi uma pioneira na dança moderna e nos efeitos teatrais de iluminação. Em 'Serpentine Dance', sua apresentação de dança mais famosa, criada em 1891, ela combinou coreografia com trajes de seda iluminados por iluminação multicolorida.



Henri de Toulouse-LautrecLoïe Fuller no Folies Bergères1892

O pintor e ilustrador Henri de Toulouse-Lautrec era um frequente espectador das apresentações de Loïe Fuller e criou várias obras de arte que capturavam a beleza e a inovação de suas performances. 


© 2023 Artists Rights Society (ARS), Nova York/ADAGP/FAAG, Paris

Albert Giacometti Mulher caminhando1932Gesso e arame de ferro150 cm The Solomon R. Guggenheim

As origens desta escultura poderão ter uma ligação com uma amiga de Giacometti. Certa noite, ao se despedir dela, ele viu como ela ficava menor à medida que se afastava. Giacometti, que sempre tentou representar aquele instante sutil em que a figura humana começa a se dissolver, mas ainda não desapareceu completamente, ficou obcecado a partir daquela noite com a ideia de transformar aquela visão em uma escultura. 


Apesar da pose, a 'Mulher Andando', tal como os seus antepassados ​​egípcios, não transmite qualquer sensação de movimento. Na sua planicidade, a obra também evoca as tradições da figura altamente simplificada das Cíclades e do kouros geométrico da Grécia arcaica. 


 Alberto Giacometti era um admirador de Auguste Rodin e foi para Paris em 1922 estudar com o escultor Antoine Bourdelle. Adiante, a descoberta das obras neocubistas de Lipchitz, Laurens, Brancusi e Picasso logo o levou a deixar de lado a formação clássica. 


Há evidências de que Giacometti tenha sido influenciado pelas figuras esguias de El Greco, que também influenciou Picasso. Giacometti visitou o Museu do Prado, em Madrid, em 1954, onde teve a oportunidade de ver as obras de El Greco de perto. 


Contudo, foi a arte egípcia que ofereceu a Giacometti um modelo estético que era condizente com suas próprias aspirações artísticas. Em 1920, aos 19 anos, Giacometti visitou o Museu Arqueológico de Florença, onde ficou impressionado com a arte egípcia. 


Alberto Giacometti sempre foi fascinado pelas obras do antigo Egito. Esta inspiração na arte egípcia está regularmente presente, aliás, na escultura e na pintura, quer como repertório de formas, quer como componente essencial da sua concepção estética.

Na escultura, Giacometti retrata uma figura masculina solitária, cujas formas básicas são as únicas características discerníveis. A figura está em uma postura de caminhada, com uma perna à frente e os braços mantidos próximos ao corpo. O corpo está inclinado para a frente, criando uma sensação de instabilidade que sugere que a figura está em movimento no espaço.  O movimento é enfatizado pelas pernas extremamente finas da figura, cujos calcanhares parecem se erguer do chão à medida que avançam. Da mesma forma, os braços são excepcionalmente longos e finos, sem sinais visíveis de músculos ou detalhes anatômicos.
© 2018 Succession Giacometti / Artists Rights Society (ARS), New York / ADAGP, Paris

Albert Giacometti Homem Andando II1960Bronze188 × 28 × 111.8 cm The Art Institute of Chicago 

Inspirada na estatuária egípcia e com foco na representação do movimento, é a obra mais conhecida de Giacometti e uma das esculturas mais célebres do século XX. 


Essa representação esguia e determinada destaca a distinta capacidade humana de locomoção vertical e simboliza a jornada da humanidade. A estátua não apenas celebra nossa natureza bípede, mas também representa a busca eterna da humanidade por compreender e transcender suas próprias limitações.


Giacometti é influenciado pelas impressões que tira das pessoas que correm pela cidade grande. Ele é fascinado por pessoas em movimento, que vê como “uma sucessão de momentos de quietude”. Para ele as obras são acima de tudo uma busca pela imagem da humanidade no espaço. 

© CC0 1.0 DEED - CC0 1.0 Universal

Autor desconhecidoArtista egípcio (Antigo Egito e Núbia)Figura masculina em pé2236-2150 aC (Final do Antigo Reino - Primeiro Período Intermediário)Madeira com tinta vermelha, branca e preta54 x 11,7 x 23 cmThe Walters Art Museum

Este artefato encontrado em uma tumba é uma escultura que retrata um homem nu em pé, com a perna esquerda avançada. Seu corpo está ligeiramente inclinado para trás, talvez para dar a impressão de estar caminhando. A figura tem pouco dinamismo e não tem naturalidade.


A estátua, que embora seja tridimensional, evoca o perfil e a frontalidade dos desenhos, pinturas e baixo-relevos limitados a uma única perspectiva. A simetria e a frontalidade são usadas para criar uma sensação de estabilidade e equilíbrio. 


Essas poses cumprem uma função formal representando figuras em situações específicas, como em cerimônias religiosas ou militares. Era uma maneira de representar o corpo humano de forma que pudesse ser facilmente compreendida pelo espectador. 


Em parte, porém, também se trata de uma escolha estilística. Os egípcios acreditavam que a realidade deveria ser representada de forma objetiva e clara. 


A arte egípcia estava intimamente ligada à religião. Os egípcios acreditavam que a arte podia ser usada para preservar a memória dos mortos e para garantir sua vida após a morte. Por outro lado, a simetria é uma técnica eficaz para aumentar a estabilidade estrutural de uma peça, garantindo sua durabilidade.

© Peter Coffin

Peter CoffinU. Boccioni 'Formas únicas de continuidade no espaço' 1913 (da série original,'Sculpture Silhouette Props')2007 Suporte de silhueta de esculturaMídia mistaDimensões variáveisColeção particular

Peter Coffin está interessado no significado abstrato da sombra das esculturas, mas também personifica humoristicamente os tropos da escultura tradicional. Baseando-se na história da arte, ele se apropria de uma série de esculturas icônicas. Estas obras seminais são reinventadas com humor, com contornos despojados e novas dimensões. As silhuetas são pranchas com uma polegada de espessura que entram e saem da visão do observador que circunda o seu entorno.

©  Barry x Ball Studio

Barry X BallFormas perfeitas (depois de Umberto Boccioni,Formas Únicas de Continuidade no Espaço, 1913)2010-2016Ouro 24K polido espelhado sobre níquel sobre cobre em modelo de protótipo rápido SLA e latão maciço com armadura / acessórios de aço inoxidável e enchimento de resina. Pedestal / vitrine de mesa: nogueira, ColorCore, alumínio, vidro com baixo teor de ferroescultura: 53,4 x 41,7 x 17,8 cm) pedestal de mesa / vitrine: 213,4 x 80,0 x 55,9 cmColeção particular

As esculturas de bronze de 'Formas únicas de continuidade no espaço' encontradas nos museus variam em acabamento, tamanho e qualidade geral. Ao usar as tecnologias mais avançadas disponíveis para criar a sua própria versão deliberadamente idiossincrática, intitulada 'Formas Perfeitas, Ball esperava remodelar detalhes, suavizar a superfície da peça, afiar seus ângulos e reparar quaisquer cortes e arranhões que estivessem na tradução em bronze da escultura de Boccioni. O artista digitalizou a escultura 'Formas únicas de continuidade no espaço, 1913 (molde de 1972), de uma coleção particular na Suíça. Após a conclusão da modelagem 3D, um protótipo de plástico foi impresso a partir de um sistema de impressão 3D Viper Pro SLA. Depois que camadas de níquel e cobre foram aplicadas ao modelo de plástico, o 'Formas Perfeita' foi revestido com ouro 24 quilates.

© Justene Williams

Justine WilliamsBoccioni Babe2022Tinta epóxi metálica bronze e prataColeção particular

As criações de Williams invocam os espíritos de movimentos artísticos passados, combinados com alusões enigmáticas e narrativas pessoais. A artista transforma materiais comuns em obras humorísticas, misteriosas e com um toque excêntrico. Nesta obra a artista oferece um contraponto contemporâneo à figura acelerada do progresso de Boccioni. Em 'Boccioni Babe' ela captura uma figura feminina a passos largos, suas formas grosseiramente talhadas e angulares (primeiro cortadas e construídas em espuma) desafiam a gravidade; está inerte, mas pronta para o movimento.

© 2008 Donald Baechler

Donald BaechlerFigura Andante2008

O artista americano Donald Baechler, revela não se interessar por narrativa ou psicologia, ou por qualquer coisa que muitas pessoas leem em suas obras. Ele diz que são apenas uma resposta aos materiais. Baechler começou a se interessar pela arte infantil, a arte dos loucos e toda essa coisa de Dubuffet, e especificamente para esta obra, declara a influência diretamente de Giacometti. A mulher achatada, foi extraída dos desenhos de Baechler. A escultura, inicialmente, feita a partir de modelo de papel machê, ricamente texturizada, serviu para ver como funcionaria tridimensionalmente a escultura que parece ter sido feita para ser vista de perfil.

© 2008 Donald Baechler

Ryan JohnsonPedestre2007

A obra de Ryan Johnson explora a figura humana e suas interações com o espaço e o tempo. Em uma série de esculturas ele captura a essência do movimento e da fluidez evocando uma sensação de transição entre dimensões, produzindo ilusões de movimento. Nesta escultura de um homem em tamanho real, representado em perfil, caminhando a passos largos, feita inteiramente de tubos coloridos dispostos horizontalmente, Ryan Johnson explora a silhueta como um borrão que sugere a passagem no espaço-tempo. A escultura sugere resíduos de imagem na trajetória do homem, evocando o espírito do futurismo e convidando o observador a contemplar a natureza efêmera da realidade. 

Descrição: Reprodução fotográfica / Figura humana na escada. A obra é composta por três peças. Em todas as três o cenário - sala com escada, piso e parede de azulejos e janela fechada - é o mesmo. Na primeira vê-se um vulto descendo a escada, podendo-se observar de forma definida apenas o pé direito sobre o terceiro degrau. Na segunda peça muda o enquadramento do cenário, podendo agora ver uma porta no começo da escada. Ainda se observa um vulto e apenas o pé, agora no quarto degrau, tem a imagem mais definida. Na terceira peça observa-se o corpo de uma figura humana masculina. Ele usa barba, está com os braços afastados do corpo. Seus pés estão sobre a escada, cada um em um degrau, como se ele estivesse descendo a escada. Autorretrato de Alexandre Mury
© Alexandre Mury

Alexandre MuryNu Descendo a Escada2010Reprodução fotográfica C-Print50,0 x 32,0 cm (cada, tríptico)Edição: 2/4MAR - Museu de Arte do Rio / Secretaria Municipal de Cultura da cidade do Rio de JaneiroColeções:Fundo Galeria Athena Contemporânea / Família MasiniNº inventário: MAR.2014.003064