A Peça #20 apresenta uma metade de um molde bipartido de gesso, uma forma que, à primeira vista, pareceria servir como uma ferramenta utilitária na reprodução de esculturas. No entanto, aqui a peça não se limita à sua função original; ao invés disso, ela é transformada em uma obra de arte autônoma. O que deveria ser o intermediário para a criação de uma escultura torna-se o foco da atenção. As reentrâncias do molde, que normalmente permitiriam desenformar uma escultura, foram finalizadas com delicadas folhas de ouro, sugerindo um novo status para essa peça.

Esse acabamento em ouro age como uma espécie de interdito, uma interrupção no ciclo esperado de produção. Ao embelezar o molde – uma ferramenta destinada à cópia –, Mury o inutiliza para sua função original. Ao invés de permitir a continuidade do processo criativo, o molde é agora um objeto finalizado, quase sagrado, que inverte a lógica do fazer artístico. O ouro, tradicionalmente usado para conferir valor e permanência a objetos, transforma o molde em algo que não pode mais ser usado como ferramenta. A peça se torna um símbolo do momento interrompido, do processo que nunca será concluído.

Essa obra dialoga diretamente com a ideia central da ocupação, "Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço", ao brincar com a noção de que o processo de reprodução e repetição pode ser interrompido e subvertido. Aqui, o molde, que deveria garantir a continuidade e a reprodutibilidade da forma, se torna um fim em si mesmo, interditando o próprio ato de cópia e criando uma reflexão sobre a autenticidade, a inutilidade funcional e a transformação do objeto utilitário em obra de arte.