Peça #17:

"Luxo Marginal" (Grafite em Folha de Ouro)

A obra "Luxo Marginal", de Alexandre Mury, subverte a tradição ao utilizar folhas de ouro 14 quilates em um contexto associado à transitoriedade e à rebeldia: o grafite. Instalado no muro externo da Casa de Cultura Villa Maria, o trabalho desafia a definição convencional de grafite e questiona as fronteiras entre a arte pública e institucional.

O uso das folhas de ouro, material historicamente vinculado ao luxo, à sacralidade e à permanência, cria um contraste irônico com o caráter efêmero e insurgente do grafite, uma expressão artística ligada às ruas e à transgressão do espaço público. Ao trazer essa técnica nobre para o grafite, Mury funde o passado e o presente, provocando uma reflexão sobre a continuidade de materiais e formas de expressão ao longo do tempo.

A peça não é apenas visual, mas também performativa. O processo de aplicação das folhas de ouro foi acompanhado por amigos e convidados, tornando o ato de criar parte da obra, uma ação coletiva que documenta a intervenção. No entanto, o foco final recai sobre o grafite de ouro, onde o título "Luxo Marginal" ressalta o paradoxo entre o valor material do ouro e a natureza marginal e efêmera do grafite.

Além disso, o fato de a obra ter sido autorizada pela instituição acrescenta outra camada de ironia, invertendo a lógica do grafite clandestino. A legitimidade conferida à intervenção pela Casa de Cultura desloca o gesto subversivo para o campo da arte institucionalizada, fazendo com que "Luxo Marginal" dialogue com a tensão entre o que é permitido e o que é transgressivo, entre a arte "legítima" e o que é considerado marginal.

Assim, a obra brinca com as noções de valor, durabilidade e a perpetuação da arte, questionando as regras e os parâmetros que definem o que é arte, enquanto explora as contradições entre riqueza e marginalidade, permanência e efemeridade.

A remoção da folha de ouro do muro da Villa Maria traz à tona a efemeridade da arte e a fragilidade do que é visto como permanente. Tal como um sopro, aquilo que foi reluzente desaparece, deixando apenas o vestígio da sua passagem — um lugar vazio na memória dos que viram e dos que agora imaginam. Ao ser removida, a obra questiona a própria ideia de presença e ausência, sugerindo que, talvez, a verdadeira permanência resida não na matéria, mas na lembrança coletiva e na experiência compartilhada. Assim, o ouro que agora falta não deixa um vazio, mas um traço intangível e silencioso daquilo que um dia brilhou.