Peça #11:

"Futuro do Pretérito" (Relevo em Madeira) 

A Peça 11, intitulada "Futuro do Pretérito", apresenta uma tábua de madeira trabalhada como se fosse uma matriz de xilogravura. Nela, a silhueta da escultura Formas Únicas de Continuidade no Espaço, de Boccioni, foi entalhada, e abaixo dela, a inscrição "Futuro do Pretérito" aparece gravada.

Este trabalho remete à técnica de xilogravura, bastante associada à produção de folhetos de cordel na cultura popular brasileira, mas aqui, ela é ressignificada. O "futuro do pretérito", tempo verbal que expressa uma ação que poderia ter acontecido, mas não ocorreu, sugere uma reflexão irônica sobre as expectativas do movimento futurista e o destino de suas ideias. O Futurismo, que defendia a ruptura com o passado e a glorificação do progresso e da tecnologia, é aqui revisitado com um tom de ambiguidade e dúvida.

A inscrição "Futuro do Pretérito" reforça essa ambiguidade. Ela coloca em questão a ideia de futuro como algo sempre avançando para o novo, enquanto, ao mesmo tempo, o pretérito aponta para o passado, para o que já foi. Este jogo entre o que poderia ter sido e o que efetivamente ocorreu fala diretamente sobre a natureza cíclica e mutável das narrativas artísticas, onde o novo, frequentemente, se reconstrói sobre os escombros do velho.

Ao usar a técnica de entalhe em madeira, Mury também faz uma conexão com a tradição artesanal e popular, criando uma ponte entre o erudito e o popular, o global e o local. Assim, "Futuro do Pretérito" se torna uma metáfora tanto para a arte quanto para o tempo: ambos são moldados pela memória, pelas possibilidades não realizadas e pelas projeções de futuros que, muitas vezes, nunca se concretizam.