"Atravessamento e Disrupção" é uma peça que desafia a percepção linear da imagem fotográfica e a continuidade do espaço físico. A fotografia, capturada no dia da performance de Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço, pelo fotógrafo amigo e professor, Leonardo Vasconcelos, retrata Alexandre Mury posando como a escultura viva, vestido com trajes dourados, em meio ao jardim da Casa de Cultura Villa Maria. Em um contraste delicado com o gramado seco e as árvores ao fundo, a figura dourada ocupa o centro da composição, evocando a pose dinâmica da escultura original de Boccioni.

No entanto, o verdadeiro ponto de ruptura ocorre na forma como a imagem é exibida: impressa em grande formato (90x120cm) e colada em uma quina de parede, a fotografia se dobra, criando um vinco vertical que divide a imagem entre duas superfícies. Esta intervenção não apenas distorce a visão plana tradicional da fotografia, mas gera um efeito visual e conceitual que sugere uma continuidade que vai além dos limites do papel. A imagem "atravessa" de uma sala para outra, como se o movimento da figura dourada estivesse rompendo as barreiras do espaço expositivo.

A dobradura da foto provoca uma disrupção perceptiva, quebrando a expectativa de uma imagem estática. O movimento implícito na pose de Mury, que homenageia a escultura original de Boccioni, ganha uma nova ênfase através desse gesto físico. A dobra no plano fotográfico cria uma sensação de fluxo, de que o corpo na imagem está avançando para fora do espaço bidimensional, prolongando-se no espaço físico da exposição.

"Atravessamento e Disrupção" é, portanto, uma peça que reflete sobre a continuidade e a ruptura, tanto no sentido visual quanto espacial. A fotografia, aqui, não é apenas um registro da performance, mas uma extensão do próprio ato performativo, convidando o espectador a se mover em torno da obra, a experimentar essa transição entre imagem e espaço, e a reconsiderar o que significa atravessar e romper com as formas tradicionais da visualidade.