Peça #16:

"Contraforma" (estêncil no chão)

A obra "Contraforma", localizada no chão de paralelepípedo logo na entrada da Casa de Cultura Villa Maria, provoca um estranhamento imediato. O que se vê é a ausência de uma figura, como uma silhueta de escultura que foi retirada ou nunca esteve lá, lembrando as marcações de uma cena de crime. A tinta que transborda dos limites da forma reforça a impressão de um acontecimento interrompido ou um vestígio deixado para trás.

Ao invés de destacar a presença, Mury foca no vazio, transformando a ausência em um elemento central. Esse jogo entre presença e ausência ressignifica o que normalmente seria ignorado: o que resta após a ação artística, os vestígios que carregam sua própria narrativa. "Contraforma" explora a relação entre forma e contraforma, sugerindo que o vazio pode ser tão poderoso quanto a presença física da obra.

Inspirada pela obra de Boccioni, cuja escultura original em gesso foi posteriormente "traduzida" para materiais como bronze, Mury reativa a discussão sobre originalidade e continuidade. O vazio na obra "Contraforma" nos faz refletir sobre o que é permanente e o que é transitório, expandindo o conceito de "formas múltiplas de continuidade no espaço" ao incluir a ausência como uma força ativa e significativa.