Peça #04:

"Sísifo Distópico" (Esteira Ergométrica e Escultura de Isopor) 

Na obra "Sísifo Distópico", Alexandre Mury nos coloca diante de um paradoxo contemporâneo: a promessa constante de progresso, mobilidade e avanço é contraposta à realidade de ciclos de repetição e inércia. Uma escultura de isopor, material frágil e efêmero, repousa sobre uma esteira ergométrica que, embora associada ao movimento, permanece imóvel. A escultura, inspirada em Formas Únicas de Continuidade no Espaço, de Umberto Boccioni, parece estagnada em sua trajetória futurista, enquanto o isopor revela a fragilidade do ideal de progresso.

Vivemos em uma época de mudanças aceleradas e avanços tecnológicos disruptivos, mas, ao mesmo tempo, há uma sensação de que, mesmo com todo esse movimento, muitos permanecem presos a estruturas inalteradas — políticas, sociais ou emocionais. Esse choque entre o movimento constante e a falta de direção é o que Mury explora nesta obra.

A esteira — símbolo de exercício físico e aperfeiçoamento pessoal — permanece inutilizada, sugerindo que o esforço contínuo nem sempre resulta em mudança real. Esse conceito dialoga com o mito de Sísifo, que carrega uma pedra morro acima apenas para vê-la rolar de volta ao ponto inicial, repetindo o ciclo indefinidamente. Na sociedade contemporânea, onde o futuro chega com uma rapidez vertiginosa, Mury nos convida a refletir: o quanto dessa velocidade realmente nos leva adiante, e o quanto nos mantém estagnados em ilusões de progresso?

O título "Sísifo Distópico" reflete essa crítica à vida moderna. A sensação de movimento pode ser tão ilusória quanto a escultura sobre a esteira: aparenta avanço, mas não sai do lugar. A obra nos obriga a questionar se o "progresso" é realmente um caminho para a transformação, ou apenas mais um ciclo que nos mantém presos às mesmas questões — agora revestidas de uma nova tecnologia.