Peça #28:

"Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo" (recipientes de plástico)

Nesta obra, quatro recipientes de plástico simples e banais, usados em cozinhas para armazenamento, se aninham um dentro do outro, como uma matrioska. À primeira vista, a peça pode parecer apenas uma referência ao cotidiano funcional, mas Mury faz uso desses objetos para subverter uma lei fundamental da física: o princípio da impenetrabilidade, que afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.

Ao observar os recipientes, o espectador é levado a questionar o limite dessa lei. Visualmente, parece que os objetos compartilham o mesmo espaço, mas a impenetrabilidade persiste — cada recipiente ocupa sua própria camada, e essa ilusão de sobreposição desafia o entendimento da ocupação de espaço. A obra, então, se torna uma reflexão sobre como o espaço pode ser manipulado visualmente, jogando com o que é percebido versus o que é real.

Além disso, a referência à matrioska, uma boneca russa composta de várias figuras aninhadas, acrescenta camadas de interpretação, sugerindo continuidade, ciclos e uma multiplicidade de significados. Nesse contexto, a peça ecoa o conceito maior de formas múltiplas de continuidade no espaço, tema central da ocupação artística.

O uso de objetos cotidianos, como utensílios de cozinha, carrega a peça de uma ironia sutil: o banal se transforma em arte conceitual, e o que é normalmente visto como simples utilitário adquire uma profundidade filosófica ao desafiar a relação entre função e espaço.

"Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo" é uma obra que pede uma reflexão mais profunda sobre como percebemos o espaço e as formas ao nosso redor. Ao brincar com um princípio físico e introduzir elementos do cotidiano, Mury convida o espectador a questionar suas próprias suposições sobre a materialidade, o espaço e as leis que governam o mundo físico.