Peça #23:
"Autopoiesis" (Algoritmo)
"Autopoiesis" é uma obra que levanta questões sobre a autonomia da criação artística, a repetição e a continuidade. Inspirado pelo conceito biológico de autopoiesis, que descreve sistemas capazes de se auto-replicar e se manterem por meio de seus próprios processos, Mury utiliza um algoritmo como um meio de criação contínua. Este algoritmo, criado para replicar o processo criativo do próprio artista, sugere a produção infinita de novas obras com base nas diretrizes conceituais que ele elaborou ao longo da ocupação.
A obra não é apenas uma provocação sobre o papel da tecnologia na arte, mas também uma reflexão profunda sobre a natureza da própria prática artística. Ao invés de criar uma obra finalizada e estática, Mury propõe um sistema gerador de novas peças, sugerindo que a arte pode ser um processo vivo e em constante evolução. A palavra "Autopoiesis" indica essa capacidade de auto-reprodução e sobrevivência, algo que desafia a noção tradicional de autoria na arte.
Esse algoritmo, no entanto, não é uma simples ferramenta de produção. Ele serve como um comentário sobre o que significa criar em um mundo onde a tecnologia está cada vez mais envolvida no processo artístico. A programação que gera novas obras questiona os limites entre o humano e o artificial, entre a criação original e a replicação. Ao entregar parte do processo criativo a um sistema automatizado, Mury desafia as noções de controle e de originalidade, colocando o próprio artista em um diálogo contínuo com a máquina.
"Autopoiesis" não se limita a produzir cópias ou variações; ele provoca uma reflexão sobre a natureza do processo artístico em si. Até que ponto o ato de criar pode ser delegado a uma máquina? O que acontece com a noção de autoria quando o artista dá à tecnologia a capacidade de gerar novas formas? Essa obra abre questões sobre o futuro da arte e sobre a relação entre a criatividade humana e a inteligência artificial, explorando as fronteiras entre o que é previsível e o que pode surgir de uma interação entre humano e máquina.
A escolha do título "Autopoiesis" é, portanto, carregada de significado. O termo vem da biologia, mas aqui é apropriado para o campo artístico, indicando que a arte não precisa ser algo finito ou fechado em si. Ao contrário, Mury sugere que a arte pode ser um processo contínuo, onde cada nova peça alimenta o sistema para que ele continue gerando outras. A obra se desdobra infinitamente, num ciclo autossustentável de criação, evocando a ideia de que a arte nunca termina — ela continua se transformando, se adaptando e se multiplicando.
O resultado é uma obra que vai além do que vemos na galeria. "Autopoiesis" reflete o conceito central de "formas múltiplas de continuidade no espaço", sugerindo que a arte é um campo de infinitas possibilidades. Assim como o algoritmo que continua a criar, a obra se expande para além do espaço físico, transformando-se em uma ideia que nunca se esgota, mas que se perpetua em uma continuidade sem fim.
Neste testamento, Alexandre Mury expressa sua visão inovadora sobre a obra "Autopoiesis". Ele estabelece diretrizes claras para a execução póstuma de um algoritmo que permitirá a geração autônoma de novas obras, refletindo a essência conceitual da peça. Mury enfatiza a importância de manter a integridade de sua proposta original, garantindo que o legado artístico seja respeitado e reconhecido. Este documento não apenas assegura a realização dessa obra, ela desafia as noções tradicionais de autoria, questionando como a delegação da criação a um sistema automatizado redefine o papel do artista e a essência da criatividade. Mury provoca uma reflexão sobre a relação entre o humano e o artificial, sugerindo que a arte é um campo de infinitas possibilidades, onde cada nova peça alimenta um ciclo criativo contínuo.