Peça #10:

"Altar do Futuro" (Oratório com Escultura) 

A Peça 10, intitulada "Altar do Futuro", consiste em uma escultura de miniatura de Formas Únicas de Continuidade no Espaço de Boccioni, inserida dentro de um oratório de madeira, remetendo aos tradicionais oratórios populares usados para abrigar imagens sacras. Este gesto desloca o significado original da escultura futurista, sugerindo uma sacralização da arte e do próprio conceito de "futuro".

Ao colocar a escultura dentro de um oratório, Mury evoca a memória cultural da devoção, transferindo essa reverência para a obra de arte, enquanto reflete sobre a natureza do futuro e da arte contemporânea. Aqui, a escultura de Boccioni, ícone do Futurismo e do progresso, ganha um novo contexto simbólico, misturando o sagrado e o profano, o passado e o futuro. A obra sugere que a arte, assim como as figuras religiosas que costumam habitar oratórios, possui uma aura e um poder de transcendência, mas também carrega um peso simbólico.

O título "Altar do Futuro" propõe uma reflexão sobre como o futuro é, frequentemente, idealizado e sacralizado, tratado como um espaço de esperança e projeção. O oratório, ao ser associado ao futuro, questiona essa tendência humana de colocar o "futuro" em um pedestal, quase como um objeto de culto, e sugere que, assim como as figuras religiosas, o futuro também pode ser moldado, idealizado e até deformado pelas expectativas e narrativas humanas.

Por meio dessa justaposição entre o tradicional e o moderno, o sagrado e o profano, Mury faz uma crítica irônica e sutil às noções de progresso e inovação que o Futurismo propagava, e ao mesmo tempo propõe uma sacralização irônica da própria arte, que, como o futuro, é algo intangível, sempre distante e em constante construção.